segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vick


Vick foi meu único e grande amor.
Tudo nela desde o início me encantou. Meiga, resignada, amorosa, linda.
Após a nossa castração, toda loucura que sentia por ela se transformou numa grande amizade incondicional.
Nós temos muito pouco tempo de diferença de idade. Ela é um pouquinho mais velha do que eu e como toda fêmea, não gosta de falar sobre este assunto.
Ela já sofreu demais. Resgatada aos seis meses de idade pela Silvana, atropelada na Avenida Indianópolis, deixada no meio fio com a tíbia dilacerada...
Minha mãe voltando para casa viu uma movimentação em torno de algo se mexendo no chão com várias pessoas ao redor. Quando se aproximou, faltando uns 5 metros, conta que a Vick levantou a cabeça, olhando diretamente para ela. Naquele momento, aconteceu uma conexão instantânea.
Foi medicada, engessada, tratada e cuidada. Além de tudo, ainda tinha sarna por todo o corpo.
Mesmo assim, tudo caminhava bem. Por isso, recebeu o nome de “Vitória”, ou simplesmente “Vick” para os mais íntimos.
Por volta de 1 mês, já sem o gesso e super feliz, algo estranho ocorreu. Vick teve uma super febre, de 40 graus. O diagnóstico foi o pior possível: Cinomose já na terceira fase, a neurológica.
É uma doença terrível para nós, cães. Muitas vezes, é fatal.
Causada por um vírus que sobrevive por muito tempo em ambiente seco e frio, em local quente e úmido,  luz solar e desinfetantes comuns. Não escolhe sexo ou raça, nem a época do ano. Ocorre na maioria das vezes nos mais novos, mas também afeta os idosos. Pode ser por contato direto ou pelas vias respiratórias. Sua evolução é imprevisível, ou seja, quando o cão adoece, não há como saber se ele vai sobreviver ou se sua morte vai ser rápida ou lenta. Por isso a vacinação é muito importante. Infelizmente aconteceu com ela. Já os demais cães da nossa casa, bem vacinados, não contraíram nada.
Vick foi tratada por um excelente neurologista veterinário, tomou os mais modernos e caros remédios da época. Sua expectativa de vida chegou aos 10%. Tinha sido afetado o cerebelo, impossibilitando-a de se mexer da cintura para baixo.
O próprio veterinário se compadecendo da Silvana e Luiz que choravam copiosamente recomendou acupuntura como ultimo recurso.
Neste meio tempo, eu cheguei. Logo que a vi percebi que era um ser muito especial. Balançou meu coração. Decidi que faria tudo que estive ao meu alcance por ela.
Enquanto realizava as sessões de acupuntura com uma especialista, eu iniciei a minha sessão particular. Comecei a instigá-la a brincar novamente. Rolávamos no chão, brincava de “eu vou te pegar” e principalmente, mordiscava as suas patinhas traseiras com a minha técnica especial de acupuntura dental. Ela adorava e começou a participar de tudo, super alegre e feliz. Levávamos também a Vick para passear apoiada nas patinhas traseiras várias vezes ao dia.  Eu sempre ao lado dela incentivando-a: “Vamos lá garota, vamos lá, você consegue...”
Minha mãe observava tudo. Passou a me chamar de Doutor Paraná. Quanto orgulho! Logo eu, também  resgatado da rua!
Após seis meses de tratamento e de muita batalha, Vick fez jus ao nome e, num belo dia, andou sozinha. Foi mágico. A casa parou para ver.
A partir de então, Vick aos poucos resgatou a confiança em si mesma. Sobrou somente como seqüela, uma das patinhas dianteiras e um dos olhinhos ficam tremendo, mas somente quando ela fica nervosa. Eu, quase nem percebo mais e até acho um charme.
Hoje ela é muito feliz, nunca mais ficou doente. Seu pêlo é lindo, seus olhos são vibrantes, seu caráter é incrível, sua liderança é alpha, é meiga, elegante e carinhosa. Tornamos-nos inseparáveis.
Compreendi que o primeiro amor a gente nunca esquece.

Um comentário:

  1. Aí Paraná. Vc tem bom gosto. A Vic só não é mais bonita que a Zefa.
    beijinhos no bigodinho.
    Kátia, Milla, Balú, Guria e Zefa.

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