quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Paraíso é aqui

Minha avó humana, mãe da Silvana sempre foi uma mulher muito dinâmica.
Veio da Europa, ainda menina com a família, fugindo da Guerra.
Logo que chegaram, foram morar no interior de São Paulo. 
Por conta da guerra, sua vida foi muito dura e seus pais foram muito austeros com os gastos e educação dos filhos.
Por ser a mais velha, começou a trabalhar desde os sete anos. Cuidava da casa enquanto sua mãe cuidava dos filhos (foram ao todo 13!).
Como moravam na fazenda, trabalhavam muito, pois seu pai, com tantos filhos, sempre dizia que não precisava de nenhuma ajuda externa.
Quando moça, veio para São Paulo morar com sua tia. Aqui aprimorou sua educação, mas não deixou de trabalhar e enviar seu dinheiro para os pais.
Casou-se e teve três filhas, sendo uma especial.
Sempre foi o centro da casa e da família. Tudo girava ao seu redor e raramente falava um não.
Acompanhou as filhas, quando jovens, nas atividades. Passou noites em claro cuidando delas, seja em casa ou na rua. No dia seguinte levantava logo cedinho, super bem humorada como se tivesse tido 8 horas de sono ininterruptas.
Aos 87 anos, cansada, “jogou a toalha”, com Alzheimer.
Por questões familiares, ninguém tinha tempo para as atividades dela naquele momento...
Revolveram colocá-la em um dos melhores locais para idosos. Tinha de tudo, assistência médica, enfermagem e cuidadoras 24 horas, lavanderia, restaurante, nutricionistas, fisioterapeutas, atividades, cinema, carrinhos de golfe para locomoção e etc.
O local era privilegiado: 30.000 m2, lago com patos, cisnes, vegetação abundante. Eu mesmo fui lá algumas vezes. Nossa! Era o verdadeiro Paraíso terrestre.
Apesar de todo o conforto, assistência, não tinha o que mais queria, o aconchego de um lar.
Neste meio tempo, minha mãe Silvana, apesar de vê-la quase todos os dias, sentia o mesmo. Eu a via muito triste depois de cada retorno do residencial onde minha avó morava.
Ela me confidenciou várias vezes que sua mãe tinha sido muito presente na sua vida, sempre com tempo para tudo e, caso não tivesse, dava um jeito. Falava que, para as filhas, valia a pena qualquer sacrifício. E agora, quando mais precisava, ninguém tinha esse tempo para ela...
Minha mãe pensou muito, conversou em casa e resolveu tirá-la de lá, apesar de questionada por esta atitude.
Era a vez dela de retribuir o seu tempo.
Hoje minha avó está muito mais feliz, sadia, radiante. As seqüelas do Alzheimer continuarão.
Mas agora terá o nosso aparato, nós os caninos aqui de casa, além dos humanos.
Hummm...Como é bom ter uma avó, ficar ao seu lado, sentir seu cheirinho, receber os seus carinhos no aconchego do nosso lar.
Percebi que o Paraíso é aqui!